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Se pedirmos a alguém para citar um santo brasileiro, provavelmente ouviremos:

— Anchieta!

Anchieta, ou mais propriamente São José de Anchieta, entretanto, não era brasileiro e sim espanhol, pois nasceu em Tenerife, nas Ilhas Canárias, pertencentes à Espanha.

Algo semelhante ocorre com o santo francês por excelência: São Martinho de Tours, nascido

… na Hungria.

Filho de um oficial do exército romano, São Martinho de Tours nasceu no ano 316 em Sabaria, na atual Hungria. Embora seus pais fossem pagãos, conheceu o Cristianismo aos dez anos de idade e desejava receber o Batismo. Mas a isso se opunha o pai, que o levava consigo em suas missões militares. Forçado por este, alistou-se aos 15 anos numa unidade da cavalaria imperial ao serviço da qual pisou pela primeira vez o solo da França.

SOLDADO, MONGE E BISPO 

Foi em terras francesas onde se deu o fato decisivo de sua vida. Tinha 18 anos e era ainda catecúmeno quando, cavalgando por uma estrada, deparou-se com um mendigo que tiritava de frio. Tomou a espada, cortou ao meio sua capa de legionário e deu uma parte ao pobre necessitado. À noite apareceu-lhe em sonho Jesus Cristo agasalhado com aquela metade de capa e agradeceu–lhe por tê-Lo aquecido nesse dia. Revigorado por essa insigne graça, apressou-se a receber o Batismo.

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Sob a proteção de Santo Hilário, Bispo de Poitiers, fundou nas proximidades desta cidade a primeira comunidade monástica da França, na qual passou cerca de quinze anos estudando as Sagradas Escrituras e fazendo incansável apostolado na região circunvizinha.

Desse seu amado recolhimento vieram retirá-lo os fiéis da atual Tours e contra a sua vontade, foi eleito Bispo dessa diocese em 371, aos 55 anos deidade. A partir de Tours, irradiou a doutrina cristã por toda a Gália [que depois veio a ser a França] até o ano 397, quando partiu para o Céu, aos 81 anos.

Monge, Bispo e missionário, São Martinho é o primeiro Santo não mártir da História da Igreja. Não o chamou Deus a dar a vida entre as garras e os dentes das feras, nem ao golpe da espada ou do machado, mas a verter o sangue da alma, sem poupar esforços a serviço do próximo. Nisso se revelou um autêntico herói da Fé e uma das mais destacadas figuras da religiosidade e da cultura francesas.

“FAR-ME-EI BATIZAR…” 

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Até por volta de 496, Clóvis, rei dos francos, relutava em instruir-se na doutrina cristã, apesar das suaves insistências de sua esposa, Santa Clotilde. Mudou de opinião na batalha de Tolbiac, ao ver seu exército na iminência de ser derrotado pelos alamanos. Depois de invocar em vão o auxílio de todos os deuses pagãos da guerra, lembrou-se do Deus de sua esposa e fez esta promessa: “Deus de Clotilde, se me deres a vitória, far-me-ei batizar”. Obteve a vitória e recebeu o Batismo, junto com três mil guerreiros francos.

Resumindo, São Martinho santificou-se em terras francesas, e nestas surgiu e ampliou-se, ao longo dos séculos, sua fama de santidade.

Assim, embora tenha nascido numa cidade da atual Hungria, seus devotos o consideram o Santo francês por excelência. Com maior razão pode-se dizer de sua nacionalidade o que se diz da dos soldados da Legião Estrangeira: “Français! Non pas par le sang reçu, mais par le sang versé— Francês! Não pelo sangue recebido,  mas pelo sangue vertido”.

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(Adaptado do artigo “O Santo francês que não era francês, de autoria do Ir. Sebastián Correa Velasquez, EP, revista Arautos do Evangelho.nº 161,  maio de 2015, p.21.

 

 

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